Acordei sem ver. Levantei procurando os óculos. Os hábitos dominam mais do que o inesperado. Depois daquela noite — quase sonâmbula — não teria outra alternativa a não ser acordar: um) indagando onde estou; dois) o que aconteceu; três) constatação de dor de cabeça. Três itens indispensáveis se fosse ressaca, mas não era. Eram, no mínimo, efeitos colaterais da falta de sono. A insônia está entre a realidade e a fantasia. Tornam-se indescritível as cores e objetos. O cenário fica escorregadio. Nestes primeiros instantes restam poucas opções. Voltar a dormir é a única impossível. Embora quisesse, não conseguiria nem que espremesse os olhos. Inevitavelmente tenho que levantar o corpo. Relutante pareço fazer uma queda de braço na qual meus braços eram cascas de ovos. Ponho-me de pé na fragilidade de um culpado. Procuro algum resquício ou indício que subverta o meu pesar, mas é o sol que lateja em minha cabeça e faz eu recuar. Cambaleio no dia ensolarado. Pareço uma aberração moderna. Isolada na manhã seguinte a um manifesto. Depois disso acabei num hospital. Ainda era cedo para um diagnóstico, que era (talvez) delirium tremens.