Ano e país de publicação. Título e autoria. Número de páginas. Personagens principais. Onde a história se passa. Data de início e término da leitura. Citações. Impressões, pensamentos, sentimentos e ponto de vista sobre o livro. E foi assim que organizei minhas leituras. Preparei cada página com uma ficha de leitura onde deixei a minha marca e um registro dos principais detalhes do meu universo literário. A hora e a vez de quem até sem nome está em pequenas partes de um livro. Esse livro, uma insistência dos sonhos, está em forma de caixa, de memórias, de uma Pandora. Depois dos meus apontamentos, confusos e movediços, só resta a ficção. Com tato e sensibilidade, o fracasso das minhas palavras são oportunidades de simulação do poder de poder escrever. Assim, meticulosamente, mandei colocar um cadeado reforçado no depósito das esmolas que faço pra cada livro que concluo. E para cada santa história penso num buraco, numa brecha solitária. A chave desse cadeado guardei junto ao peito. E roubo, sistematicamente, as doações da linguagem. Opero um milagre da multiplicação para afundar nas águas invisíveis do mar.