Ela cresce. É visível. Às vezes, a velocidade dos seus passos me assusta. Calça entre 31 e 32. Para onde esses pés a levarão? Eu a vejo de fora, mas com os olhos de dentro. Ela adora maquiagem, atenta a cada detalhe, à harmonia das cores. Aprecia o conforto, despreza o tédio. Tem oito anos e meio, e, nesse meio tempo, quer cantar, saltar, dar cambalhotas no sofá. Ri de si mesma, atrapalhada com a bola de vôlei, como se a leveza fosse o segredo da infância. Leva a vida com uma graça que muitas crianças perderiam ao tropeçar em suas próprias expectativas.
Antes de dormir, confidencia medos simples: pesadelos, casas invadidas, o inesperado. Eu vejo uma menina, mas sinto o eco de uma moça nascendo aos poucos. Parte de mim se agarra à surpresa, tentando adiar o inevitável. Outra parte teme perder momentos preciosos enquanto a vida corre em sua banalidade: tarefas, prazos, a corrida sem fim por algo ainda inexplicável.
Sinto falta de termos o tempo longo, desses instantes que já parecem curtos. Como se, ao piscar, anos tivessem passado em segundos.
Para minha filha Maria Luiza.