Dormi muitas noites ao lado da máquina de lavar. Quarto dos fundos, uma vez ouvi a patroa falar. Durante muito tempo não me importei em ser chamada de empregada. Nunca escolhi ser pobre, nem mesmo preta. Uma cama, um prato e um trabalho eram o melhor caminho. Parecia até o dia em que fui dispensada. Quando disseram que eu não tinha mais serventia, primeiro fiquei triste, depois alimentei a raiva. Tanta raiva que dei um tapa na cara. Foi esse dia que rasguei o peito, pele e parede. Paguei um preço como uma criada. Agora não sou mais assim. Virei heroína da periferia. Agora sou deusa. Ação afirmativa. Mas hoje não quero só ser a deusa da periferia. Isso já é pouco. Quero mais. Sou a patroa do mundo.