confissões


Publicado em
Texto por
Severo Garcia
Imagem por
Cris Severo

Algumas coisas chegam num pequeno tumulto, dentro de uma cena violenta. A notícia de um homem que sofreu um acidente de trânsito, voltando do trabalho, não teria entusiasmo, se não fosse um trauma perdido no tempo. Aliás, o homem morreu. A realidade não vira notícia. É preciso acrescentar informações distraídas para repassar uma cena. Veículo capotado. O corpo de um adulto já sem vida e sem cinto de segurança – nos anos sessenta os riscos e os medos eram outros. Duas crianças. Sete e cinco anos. Choro. Lágrimas. Havia algo mais. Algo como confete colorido, melecado, um bolo de aniversário. Havia ali algo mais. Aquilo que não aparece nos registros de uma ocorrência. Era dia de aniversário. Não do homem que dirigia seu carro para casa, depois de um dia de trabalho. Aniversário de dois filhos. O de sete anos, que o acompanhava no acidente, e o de apenas um ano, que estava em casa aguardando o bolo para seu primeiro feliz aniversário. Um acidente de trânsito. Velas acesas pra desilusão. A família, em silêncio, esperava uma chegada abrupta ou uma confissão arbitrária que nunca se completou.

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