A Dona Infância queria comprar a própria alforria. A velha escrava Infância não tinha poder sobre seu corpo. O Senhor da Infância e todas as outras escravas possuía a Freguesia inteira na comarca do Rio Araranguá. A Infância gerou mais de dez filhos do Senhor que nem engenho possuía. Nunca foi perguntada sobre o seu desejo em ser mãe. Dona Infância, já idosa e ainda escrava do também idoso e maquiavélico Senhor, disse um dia pagar para ser livre. A suplicante escrava Infância indenizaria o Senhor e seria a sua própria propriedade. Contudo, a infância se tornou livre somente com a idade avançada. Um dia chegará, no futuro, no qual a Infância jovem verá o Senhor babando, na Freguesia do Ó. De saia curta e rendada fará a ronda na orla ensolarada e nua entrará no mar. Inteira. Na arquibancada, embasbacado o Senhor olhará, caolho, cabisbaixo, só. Hoje Infância chora a falta que o tempo a vir lhe faz. Se o Senhor acorrenta, Infância de meus devaneios, violento meus versos que se consolam e acomodam a memória dentro de jornais velhos.